segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Madrugada




     Sabe, deixa disso. Vem aqui, vamos ver um filme. Escutar um som. Pensar, conversar. Tomar um chá quem sabe ? Vem aqui e senta comigo, come umas bolachinhas e me conta sobre tua vida. Fale-me sobre aquilo lá, como vão seus pais, do que morreu teu gato, como foi sua viagem a qualquer lugar. Me diz do que tu gosta, da onde vens, tua idade, se tem irmãos, me conte tudo, puxe assunto. Diga que odeio o que eu mais gosto ( só pra mim ficar com vontade de te matar ) e eu vou concordar, só pra ter mais assunto e etc.
     Não faça muitos rodeios, mas também não me só respostas curtas. Pode mentir seu nome, pode mentir até sua idade. Minta tudo se quiser, pois afinal, depois desta noite eu nem vou lembrar de você. Mas por favor, quando for embora me avisa. Não fale que vai no banheiro, ou vai pegar alguma bebida e nunca mais apareça. Faz assim então, me dá um beijo, diga tchau, paga tua bebida, fale com a atendente, olha para mim novamente e diz: quem sabe a gente se encontra em algum outro bar por aí, me dá mais um beijo e aí vai embora. Nem pensa em ligar no outro dia, nem pra perguntar se cheguei bem em casa, ou se pelo menos cheguei. Prefiro assim sem muita firula, que é pra não ter apegos.
    Já quando você for embora, vou tomar mais umas duas ou três, me levantar, tirar as moedas do bolço pagar a atendente e ir embora de apé, no frio. Chegar em casa, ligar a TV, comer alguma coisa que sobrou de ontem, fazer um café (só uma xícara), ir na sacada fumar um pouco, tomando o café amargo que chega doer. Pensar mais um pouco na vida, se sentir solitário e embriagado, notar que a vida está chata demais, ficar com preguiça. Ir pra dentro de casa novamente com um pouco de frio, ir no banheiro, lavar a cara, escovar os dentes, lavar a cara novamente e então ir dormir. Acordar como sol na cara, com uma puta dor de cabeça e com a boca seca. Reclamar, falar um pouco sozinho. Tomar mais um café, fumar um cigarro, se tiver e então sair pra mais um dia.




GC